sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Não vos conformeis!


Certa vez fiz uma breve análise grega (exegese) do segundo versículo do capítulo 12 de Romanos, que vem a ser o texto áureo da lição bíblica desta semana. É uma análise limitada pelo meu conhecimento, onde foquei algumas palavras apenas. Minha bíblia traduz o versículo assim: E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

Poucos leitores cultivam o hábito de se ater ao significado das palavras que lêem, e perdem informações importantes, com esta ignorância. Diversas palavras contidas neste versículo devem ser exploradas adequadamente para que um rico manancial se revele no texto. Desejamos analisar algumas delas. Oportunamente poderemos utilizar um método mais adequado para analisar a todas.

Vamos, num primeiro momento, apreciar o significado da palavra conformar. Quantos apenas não a contextualizam, passando a explorar diretamente a dimensão doutrinária do texto? Conformar é um verbo tão rico em seu significado, não é verdade? Tomemos um bolo, juntemos seus ingredientes, em seguida, misturemos os mesmos. Coloquemos numa forma, que, após passar pelo forno, nos dará o formato exato da massa. Pois, conformar tem exatamente esta conotação. Quando o apóstolo disse: Não nos conformeis com este mundo, ele estava querendo dizer que nós não devemos ter a forma do mundo, seu formato decadente. O texto usa o verbo grego syschematizô, que significa, literalmente, formar ou modelar de acordo com algo. Um outro aspecto interessante de conformar é a intenção objetiva de seguir um ou outro modo de vida, é o desejo consciente e intencional de seguir uma determinada posição. Ninguém pode impor um modo de vida a qualquer pessoa, a menos que este seja aceito por ela. Este aspecto vem de encontro ao pedido do apóstolo, no versículo anterior, por uma religiosidade racional, que não se apóia apenas no que outros dizem, mas no que nós mesmos achamos.

Em conexão direta com este verbo, temos a palavra aiônios, que se refere ao mundo como um sistema decaído, no qual o cristão é um alienígena, e do qual deve estar distanciado. Ele não deve estar em conformidade com seus valores, conviver com sua ética, nem compactuar com sua cosmovisão. O verbo, por sua vez, está na voz média/passiva indicando que o processo se dá num nível externo, adentrando à nossa vida tão logo haja uma oportunidade. Ou seja, um sentimento perene de inconformismo deve nos acompanhar, e não só isso, devemos sentir a necessidade constante de aprimoramento espiritual. É o caso de Abraão que sendo rico e benquisto, ansiava pela cidade prometida nos céus (Hb 11:8-10). Paulo aconselha em I Coríntios 12:31: Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente.

O terceiro termo é o verbo metamorfoô, transformar. Podemos novamente imaginar a quantidade enorme de transformações por que passa a massa, até que se torne bolo ou pão. É um trabalho duro, desde a escolha da combinação perfeita de ingredientes até a paciente espera pelo cozimento, ainda que hoje tenha sido aliviado pela tecnologia. São muitas etapas, para seguir uma receita com um objetivo bem definido: transformar os ingredientes na forma proposta. Sem transformação não há bolo, muito simples e objetivo. Assim é o pedido do Senhor Jesus, em Lucas 9:23: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Outra dificuldade proposta pela palavra, é a deconstrução do resultado da transformação. As Escrituras insistem em que não tentemos tal coisa, e nos pede para ir ...até o fim (Daniel 12:13).

Por outro lado, não podemos impor nosso próprio "formato" ao evangelho, não se trata de uma conveniência particular. Pedro é muito seletivo na palavra que usa para descrever como se dá essa metamorfose. Leiamos I Pedro 2:21: Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. Para denominar exemplo aqui ele usa a palavra grega hypogrammos, que se refere ao esboço do artista, ou ao desenho que o professor dá a um aluno para ser preenchido. Nós não podemos propor um novo desenho, temos de nos conformar em tão somente preenchê-lo, sabendo que ao fazer isso estaremos dando um grande passo.

A quarta palavra é nous, traduzida por mente. Temos aqui o ambiente no qual ocorre a transformação. De fato, de nada adiantaria ter um corpo transformado numa mente estagnada. De forma que assim como o tabernáculo era erigido de dentro para fora, assim as transformações necessárias a nós devem iniciar em nosso interior. Entretanto, é imperativo observar que a transformação preconizada pela palavra de Deus não ocorre pela vontade humana, é Ele mesmo quem executa o processo do novo nascimento. Ou seja, a renovação de entendimento é um processo divino, o homem cria apenas a oportunidade, sofre a ação. É daí que a voz do verbo metamorfoô é passiva.

A quinta palavra a analisarmos é o verbo dokimazô, traduzido como experimentar. Há algumas dimensões interessantes aqui. A primeira delas é que a experiência é pessoal e intransferível. Jamais alguém será capaz de compreendê-la pelo outro. Em segundo lugar, a experiência é objetiva, ainda que envolva elementos subjetivos. Deus não quer que sejamos meros participantes passivos de sua salvação. A renovação do entendimento é um processo progressivo, dinâmico, passível de avaliação particular, e, em determinados níveis, coletiva. Em I Coríntios 11:28, Paulo afirma: Examine-se, pois, o homem a si mesmo..., em I Tessalonicenses 5:21, diz: Examinai tudo, retende o bem, e em I João 4:1 o apóstolo do amor nos exorta: Provai os espíritos... Mas, talvez a dimensão mais importante é que o ser humano deve buscar esta experiência. Deus faz em nós a transformação, mas, como já dissemos o início do processo depende de nós. Não á toa o verbo dokimazô está na voz ativa. Cabe-nos iniciar o processo, e avaliar, rotineiramente, se algo mudou, se Cristo vive em nós. Caso contrário, voltemos à cruz, onde tudo começa.

Por fim, temos o substantivo teleios, perfeito, no sentido de acabado, executado com perfeição. Ela se associa a uma família de verbos gregos tais como teleióô e teléô, cujo sentido é o de algo completo, cumprido. O último destes verbos é usado na exclamação de Jesus: tetelestai, está consumado!


Para não ficar apenas em minhas palavras, vem o Marcus Barbosa, postando no Blog da EBD, uma crítica ao CD da Pamela (foto ao lado), no qual ela vem "fantasiada" de Britney Spears. Diz ele: Esta é a foto da capa do novo CD de Pamela, jovem cantora gospel, que tem muitos admiradores entre nossas crianças e adolescentes. Também me impactei ao entrar na LUZ e VIDA e me deparar com a capa deste CD. Logo pensei na influência, que a sua atual aparência, que imita as características da cantora americana - Britney, vai trazer aos nossos adolescentes. Lembro-me que logo que a vi, a alguns anos atrás, usando um anel no dedo polegar, em pouco tempo os nossos adolescentes já estavam usando do mesmo “enfeite”.

Se não houve a intenção, Pamela, perdão. Caso contrário, não vos conformeis...

Postado originalmente em Reflexões Sobre Quase Tudo!

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