quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Por quem batem os sinos do Natal?


Pela falsa caridade oportunista. Passa-se o ano todo em necessidade, e, próximo do Natal, alguém reúne comidas e roupas e doa aos que nada têm. É a redenção da boa vontade, esquecida durante o ano, lembrada no Natal. Os pobres sempre tende convosco, diz a Palavra de Deus! Voluntários se oferecem, doações aparecem, enfim um espírito voluntário toma conta de todos. Passadas as festas natalinas, os sinos ecoam nas barrigas vazias, e nas roupas rotas, nas mentes tortas, nos sorrisos absortos, na peças marotas.

Pela mídia que fatura muito bem com seus natais bem elaborados, onde famosos visitam asilos, hospitais e favelas, procurando tocar a pessoas por suas atitudes. Durante todo o ano permissão, no Natal remissão.

Pelas mãos fechadas no ano que se estendem no Natal, pés opulentos caminham em busca do outro. Ricos e famosos descem de seus carros caros e andam em ruas lamacentas, vagueiam por paredes mal caiadas, entram em lugares pobres, esquecidos durante o ano, lembrados no Natal. Os sinos não ecoam nas mãos-de-vaca!

Pelas empresas que dobram seus lucros e batem recordes de vendas, tendo como chamariz o Natal. Se não há como vender nada a Deus, dono de tudo que é, vendamos aos seus filhos, raciocinam elas.

Pelos templos do consumo que mercadejam a felicidade plástica estampada em comerciais bem acabados, Natal é beleza, afirmam subliminarmente em suas propagandas.

Pelas mesas fartas dos ricos, que distribuem as migalhas com os pobres cachorrinhos. Repletas de produtos criados especialmente para o Natal: chesters, panetones, árvores, enfeites. Empanturram o estômago, enquanto esvaziam a alma.

Pelas indústrias de roupas que faturam como nunca, afinal Natal é roupa nova, dizem. Os sinos batem por você, que deixou de vir á igreja porque não tinha uma roupa nova, um atendimento ao apelo consumista.

Por Papai Noel, uma invenção nórdica que desce pelas lareiras a entregar presentes ás crianças. Nestes trópicos sem lareira ele eterniza a lenda nas lojas e ruas, e nas inúmeras situações em que a mídia pode faturar com ele. Papai Noel agora desce de helicópteros, para presentear mentes hipnotizadas pelo glamour.

Pelos mais pobres que sonham a utopia de serem visitados por um Papai Noel, nem que seja um Ratinho, um Gugu, um Show do Milhão, mas pode ser um Netinho, um ator global, uma sexy symbol do momento. Que Jesus, que nada, ele não aparece em novela ou comercial!

Pelos filmes temáticos que misturam realidade com ficção, Jesus com Papai Noel, e assim vão vendendo a ilusão. Os telespectadores embromados vibram diante da telinha ou da telona, isto é que é Natal!

Por você que espera um Deus que opera apenas no Natal, não um Deus incansável, que trabalha por aquele que nele espera o ano todo, 24 horas.

Pelos salões de beleza que nunca faturam tanto. São cortes, escovas, penteados, maquiagens, adornos para cabeça, unhas e corpos. Agora virou moda fazer plástica no fim de Ano, para o Natal dizem, consumidoras loucas para encarnar uma personagem qualquer.

Pela estética do Jesus do Natal. Estrategicamente colocado numa manjedoura, veste roupas caras e atende aos padrões de todos. Jesus negro para os negros, loiro para os loiros. Um Jesus adornado, maquiado, cheio de peripécias. Distante do meigo nazareno, prestam-se a cultos diversos.

Pela estética que pede luzes, muitas luzes. Para acender os caminhos e iluminar as fachadas, de quem passou o ano escondendo o rosto com vergonha dos atos. Empresas que roubaram do pobre e não atenderam ao gemido do necessitado, que exploraram sua mão de obra, repletas de luzes brilham para a vida fugaz. Vida fugaz essa de uns poucos dias do ano, desmontadas e cuidadosamente guardadas para o próximo Natal, como se a felicidade pudesse ser guardada em caixas de papelão.

Por você, que nas efemérides lembra de se adornar não para Deus, mas atender aos apelos dos outros. As luzes do Natal não podem iluminar sua alma!

Pela falsa alegria de quem passa uma noite toda dançando ao redor de um trio elétrico, comemorando o feriado e não o Natal.

Pelo aumento do consumo de drogas, de bebidas alcoólicas, pelas estatísticas inflacionadas dos acidentes. Os traficantes nunca faturam tanto quanto no Natal e Ano Novo. Os hospitais nunca recebem tantos feridos quanto nos feriados de fim de ano.

Pela incapacidade que temos de sintetizar quanto amor Deus tem por nós, ao nos doar Jesus, seu único Filho. As compras não podem retribuir o amor de Deus. No máximo, podem fazer com que alguém se sinta lembrado.

Pela insensibilidade de nos reconhecermos incapazes de salvar a nós mesmos. Mesmo que nascêssemos num Natal ou numa manjedoura, nada de eterno poderíamos fazer.

Pela distância que nos separa dos outros, seria o eco dos sinos um recurso para preencher o vazio que há entre nós? A mídia mostra pessoas felizes comendo juntas, enquanto somos incapazes de abrir nossa mesa a desconhecidos. Podemos mesmo comer um chester numa mesma mesa, intrigados com algum parente presente!

Os sinos tocam porque nós não nos deixamos tocar por Deus, e rangem por nossa dor nostálgica. Não batem por Jesus, bem distante do Natal dos homens, ainda por nascer na manjedoura das almas!

Mensagem de Natal publicada no final do ano de 2007 no Blog Reflexões Sobre Quase Tudo!. Com algumas adições agora.

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