segunda-feira, 14 de julho de 2008
Um poema de Mário Barreto França
Último Combate
- “O combate será a uma hora da tarde!”
Foi a voz que se ouviu, como horrível alarde,
Ao longo da trincheira... E o dia era tão lindo!...
- Como é belo morrer quando se vai sorrindo
Para a luta cruel, numa manhã como esta,
Toda cheia de luz, toda cheia de festa!...
(Era um belo rapaz que me falava.)
- Escuta,
(Perguntei-lhe) não tens receio desta luta?
Ele não respondeu, porém, sentidamente,
Cantou ao violão uma canção pungente...
E me disse, depois, com olhos rasos dágua:
- Não! Eu não temo a morte! O que me causa mágoa
É me sentir tão longe, é me ver tão sozinho
E não voltar jamais ao calor do meu ninho,
Onde, entre beijos bons de minha doce esposa,
Meu filhinho me espera, e, esperando, repousa...
Quando eu vim para cá, beijando-me, ele disse
Uma frase qualquer, uma linda tolice...
Mas, depois, enxugando uma lagrimazinha,
Deu-me um livro, dizendo: “É uma lembrança minha,
Papai! Quando o senhor estiver em perigo,
Leia este livro, ouviu?! Jesus é nosso amigo!
E o senhor não será mais sozinho nem triste,
Porquanto onde Ele está tudo o que é bom existe!”
E ele continuou a cantar. Que tristeza
Começava a pesar em toda a natureza!...
E eu fiquei a invejar sua alma comovida,
Porque era triste só no deserto da vida...
A chuva começara a cair lenta e fina...
Como interrogação fatídica, a colina
Mostrou-se ao nosso olhar, cheio de nostalgia,
Perversamente verde e tristemente fria.
... ... ... ... ... ... ... ...
A luta começou terrível. A metralha
Ia levando a morte ao campo de batalha.
Gritos, imprecações e vozes de comando
Juntavam-se no espaço escuro e formidando...
Pungente agonizar de uma tarde cinzenta,
Tarde que quis ser linda e que foi tão cruenta!...
Quando a noite caiu, negra e fria, tornou-se
Mais bárbaro o combate. Era como se fosse
Rude destruição de uma cidade antiga
Pelo ódio figadal da vingança inimiga.
Quando a manhã raiou, o combate findara,
Mas era horrível ver tudo o que se passara...
Espraiei meu olhar pelo campo assolado,
E o pranto me feriu o coração magoado:
É que aquele soldado, inda tão moço e alheio
A essas contradições do Destino, encontrei-o,
Ensangüentado, assim, de bruços na trincheira,
Prendendo ao coração, numa ânsia derradeira,
Da esposa e do filhinho, um retrato cinzento,
Colado à capa azul de um Novo Testamento.
Do livro Primícias da minha Seara
Originalmente em: http://poesiaevanglica.blogspot.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário