“E uma grande multidão seguia a Ele, inclusive
muitas mulheres que choravam e pranteavam em desespero.” (Lc 23.27).
É notório em todos os relatos bíblicos sobre as
atividades de Jesus, em seu ministério terreno, o ajuntamento das multidões.
Jesus forneceu-lhes alimento, curou seus enfermos, expulsou demônios que os
atormentavam; enfim, o Senhor deu ao povo aquilo que ele queria: alimento,
saúde, felicidade. Os homens querem “o bom e o melhor” deste mundo.
Lá em Caná, na festa de casamento, a própria mãe de
Jesus preocupou-se com a necessidade material do noivo e de seus convidados.
Quando o Senhor ensinava aos discípulos, o povo se amontoava ao redor deles,
porque sabiam que lhes viria pão e peixe. O ser humano é tão arraigado ao que é
terreno, que se torna incapaz de cogitar coisas superiores. “Portanto, visto
que fostes ressuscitados com Cristo, buscai o conhecimento do alto, onde Cristo
está assentado à direita de Deus. Pensai nos objetivos do alto, e não nas
coisas terrenas;...” (Cl 3.1-2).
No Éden, Adão teve sua atenção chamada para a
satisfação do instinto, para o que lhe traria prazer físico. Viu que o sabor
era apreciável, então, trocou a sua relação com Deus e buscou o que lhe ditava
a curiosidade, sem se dar conta de que ali nasceria o cumprimento de sua
sentença de morte. A cogitação material transforma o homem em material, logo,
pertencente à categoria dos elementos corruptíveis.
A Antiga Aliança provia a nação escolhida de
riqueza material, desde que observasse os mandamentos, as leis estabelecidas no
período mosaico. Isso ocorreu, porque ainda não havia chegado à plenitude dos
tempos determinados por Deus para a vinda do Messias. “Todavia, quando chegou a
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido também
debaixo da autoridade da Lei.” (Gl 4.4).
Ocorre que a humanidade não teve seus olhos
voltados para o cumprimento daquilo que anunciaram os profetas; não
reconheceram no Mestre, senão, um líder capaz de livrá-los do jugo romano.
Quando o Senhor passou pelo julgamento e foi
condenado à morte na cruz, teve antes um terrível vitupério: bateram-lhe com
pau, puseram-lhe coroa de espinhos, rasgaram-lhe as roupas. Dos condenados à
cruz ele foi o mais vituperado.
O povo constrangeu-se, chorou, lamentou, encheu-se
de dó daquele bondoso Nazareno. Assim procede até hoje o catolicismo romano:
faz a lamentação de um pobre e incompreendido Cristo fragilizado. Ali estava um
Mestre que já não poderia alimentar, não poderia ressuscitar filhos de viúvas
abandonadas. Ali estava um Mestre que deixava seus seguidores sem recursos e
abandonados. O povo só vê o material.
A verdadeira mensagem de libertação e de salvação
que Jesus trazia ficou tão esquecida que até seus discípulos o abandonaram e
Pedro chegou a negar que o conhecia. Quem se lembrava do que dissera o Senhor à
mulher samaritana? “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que te pede: ‘dá-me
de beber’, tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (Jo 4.4) “Quem beber
dessa água terá sede outra vez;...” (v.13).
Que faz a multidão hoje? Ajunta-se, espreme-se nos
lugares em que alguém anuncie ser portador de dons de cura de quaisquer
doenças; que “unjam” carteiras de trabalho, fotografias; que distribuam “óleos
milagrosos” e “águas bentas”! A multidão vive ávida por visitar edifícios
suntuosos em que exploradores anunciam como lugar especial para a satisfação de
seus desejos terrenos. A multidão ama ser ludibriada, desde que algo satisfaça,
pelo menos psicologicamente, suas ansiedades materiais.
Mas, Jesus Cristo não veio ao mundo para distribuir
automóveis, casas, arranjar empregos e casamentos aos interessados. Cristo não
veio transformar água em vinho, simplesmente para que os festeiros regozijem-se
à vontade. Essas coisas oferecem os vendilhões do evangelho, os apóstatas da
fé. Mas a multidão ama-os, segue-os, ajuda-os, defende-os, por verem neles uma
miragem de “vida regalada”.
E Jesus? Que fazer dele? Ora, pode-se lamentar que
um homem tão bom tenha sido condenado à morte na cruz: fato lamentável!
Choremos por Ele, que já não pode suprir-nos de comida, de cura, de “bons
conselhos”.
Também, como fizeram os fariseus, esquecê-lo, pois,
se fosse o Filho de Deus, isso não lhe aconteceria.
Mas, também podemos entender que através de
apóstolos, bispos, pastores, padres modernos, imagens de “santos”, toalhinhas,
“água do rio Jordão, “mezuzás” etc., alcancemos as graças solicitadas.
E Jesus, o Cristo, que fazer dele?
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o
seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna.” (Jo 3.16).
“Em verdade, em verdade, vos asseguro: quem ouve a
minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida.” (Jo 5.24).
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele
comigo.” (Ap 3.20).
Caro leitor, você faz parte da multidão de
necessitados do que é terreno? Se assim for, convido-o a ver a sua maior e mais
premente necessidade: a sua sede da água viva, oferecida por Jesus e só ele lhe
pode dar.
Um comentário:
Excelente reflexão!
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