terça-feira, 12 de agosto de 2014

O MAL DA MULTIDÃO



“E uma grande multidão seguia a Ele, inclusive muitas mulheres que choravam e pranteavam em desespero.” (Lc 23.27).

É notório em todos os relatos bíblicos sobre as atividades de Jesus, em seu ministério terreno, o ajuntamento das multidões. Jesus forneceu-lhes alimento, curou seus enfermos, expulsou demônios que os atormentavam; enfim, o Senhor deu ao povo aquilo que ele queria: alimento, saúde, felicidade. Os homens querem “o bom e o melhor” deste mundo.
Lá em Caná, na festa de casamento, a própria mãe de Jesus preocupou-se com a necessidade material do noivo e de seus convidados. Quando o Senhor ensinava aos discípulos, o povo se amontoava ao redor deles, porque sabiam que lhes viria pão e peixe. O ser humano é tão arraigado ao que é terreno, que se torna incapaz de cogitar coisas superiores. “Portanto, visto que fostes ressuscitados com Cristo, buscai o conhecimento do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Pensai nos objetivos do alto, e não nas coisas terrenas;...” (Cl 3.1-2).
No Éden, Adão teve sua atenção chamada para a satisfação do instinto, para o que lhe traria prazer físico. Viu que o sabor era apreciável, então, trocou a sua relação com Deus e buscou o que lhe ditava a curiosidade, sem se dar conta de que ali nasceria o cumprimento de sua sentença de morte. A cogitação material transforma o homem em material, logo, pertencente à categoria dos elementos corruptíveis.
A Antiga Aliança provia a nação escolhida de riqueza material, desde que observasse os mandamentos, as leis estabelecidas no período mosaico. Isso ocorreu, porque ainda não havia chegado à plenitude dos tempos determinados por Deus para a vinda do Messias. “Todavia, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido também debaixo da autoridade da Lei.” (Gl 4.4).
Ocorre que a humanidade não teve seus olhos voltados para o cumprimento daquilo que anunciaram os profetas; não reconheceram no Mestre, senão, um líder capaz de livrá-los do jugo romano.
Quando o Senhor passou pelo julgamento e foi condenado à morte na cruz, teve antes um terrível vitupério: bateram-lhe com pau, puseram-lhe coroa de espinhos, rasgaram-lhe as roupas. Dos condenados à cruz ele foi o mais vituperado.
O povo constrangeu-se, chorou, lamentou, encheu-se de dó daquele bondoso Nazareno. Assim procede até hoje o catolicismo romano: faz a lamentação de um pobre e incompreendido Cristo fragilizado. Ali estava um Mestre que já não poderia alimentar, não poderia ressuscitar filhos de viúvas abandonadas. Ali estava um Mestre que deixava seus seguidores sem recursos e abandonados. O povo só vê o material.
A verdadeira mensagem de libertação e de salvação que Jesus trazia ficou tão esquecida que até seus discípulos o abandonaram e Pedro chegou a negar que o conhecia. Quem se lembrava do que dissera o Senhor à mulher samaritana? “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que te pede: ‘dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (Jo 4.4) “Quem beber dessa água terá sede outra vez;...” (v.13).
Que faz a multidão hoje? Ajunta-se, espreme-se nos lugares em que alguém anuncie ser portador de dons de cura de quaisquer doenças; que “unjam” carteiras de trabalho, fotografias; que distribuam “óleos milagrosos” e “águas bentas”! A multidão vive ávida por visitar edifícios suntuosos em que exploradores anunciam como lugar especial para a satisfação de seus desejos terrenos. A multidão ama ser ludibriada, desde que algo satisfaça, pelo menos psicologicamente, suas ansiedades materiais.
Mas, Jesus Cristo não veio ao mundo para distribuir automóveis, casas, arranjar empregos e casamentos aos interessados. Cristo não veio transformar água em vinho, simplesmente para que os festeiros regozijem-se à vontade. Essas coisas oferecem os vendilhões do evangelho, os apóstatas da fé. Mas a multidão ama-os, segue-os, ajuda-os, defende-os, por verem neles uma miragem de “vida regalada”.
E Jesus? Que fazer dele? Ora, pode-se lamentar que um homem tão bom tenha sido condenado à morte na cruz: fato lamentável! Choremos por Ele, que já não pode suprir-nos de comida, de cura, de “bons conselhos”.
Também, como fizeram os fariseus, esquecê-lo, pois, se fosse o Filho de Deus, isso não lhe aconteceria.
Mas, também podemos entender que através de apóstolos, bispos, pastores, padres modernos, imagens de “santos”, toalhinhas, “água do rio Jordão, “mezuzás” etc., alcancemos as graças solicitadas.
E Jesus, o Cristo, que fazer dele?
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16).
“Em verdade, em verdade, vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (Jo 5.24).
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.” (Ap 3.20).


Caro leitor, você faz parte da multidão de necessitados do que é terreno? Se assim for, convido-o a ver a sua maior e mais premente necessidade: a sua sede da água viva, oferecida por Jesus e só ele lhe pode dar.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente reflexão!