quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mandela, homem de outro tempo

Nelson Mandela (1918-2013)
  Por George Gonsalves

Sou um privilegiado. Vivi na mesma época em que também viveu Nelson Mandela. Dizem que os homens só se tornam célebres quando morrem e, às vezes, muito tempo depois. Assim, Leonardo da Vinci não era considerado um gênio tão grande em vida. Também  Beethoven não era sinônimo de música clássica no início do século XVIII. Mas com Madiba, como era conhecido, foi diferente. Mesmo vivo, ele foi reconhecido com um dos grandes homens dos séculos XX/XXI. Daqui a cem anos ainda se falará dele, mas a morte não o elevou a um patamar maior do que àquele que ele alcançou em vida.
     Contudo, chego a pensar que Mandela é um homem de outro tempo. Numa época em que o mundo cultua celebridades vazias e proclama a vingança como virtude; em tempos em que pessoas não são capazes de sequer sofrer por aquilo que mais acreditam e que líderes políticos só pensam em se locupletar, eis que viveu Mandela. Nascido e forjado para o ódio e a vingança, soube “relevar”, como ele mesmo disse. Não temeu morrer para ver o ideal de uma nação em que a cor da pele não decidiria o futuro dos homens. Depois, não usou o poder para destruir os que o odiavam.
      Esta noite poderei dizer aos meus filhos que há mais do que gente mesquinha, covarde e vingativa no mundo. Poderei dizer que os homens aplaudiram Mandela, não por suas façanhas esportivas ou mesmo artísticas, mas porque ousou pregar o perdão em uma terra de guerra. Ele faz nos lembrar de outro homem que, como Mandela, nasceu em um lugar pobre (Belém) e em conflito, anunciou o perdão de Deus aos homens e nos ensinou a perdoar-nos uns aos outros. Deste, o mundo precisará muito mais.


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