terça-feira, 24 de setembro de 2013

O ateu que queria ser pastor


por George Gonsalves

   Há alguns anos conheci um jovem (vou chamá-lo de Sérgio) que demonstrava temor a Deus. Gostava de ajudar as pessoas, era dedicado ao evangelismo e frequente às reuniões da igreja. Certo dia, enquanto fazíamos um trabalho evangelístico, ele disse-me que tinha vocação para o ministério pastoral. Fiquei feliz ao ouvir tal declaração de alguém que tinha cerca de quinze anos de idade.
   O tempo passou. O jovem se tornou adulto e começou a frequentar um curso universitário. Era o orgulho de seus pais. Contudo, notei que seu fervor começou a declinar. A maior prova de seu esfriamento espiritual era sua apatia ante os problemas dos outros. Passou a viver uma vida descompromissada e vazia. Suas prioridades e amigos mudaram. Passou também a dar desculpas esfarrapadas para não se envolver em atividades de aconselhamento ou evangelísticas.   
   Chamei, então, seu pai (que era cristão) para conversar. Disse-lhe como estava percebendo o seu filho. Ele parecia tão encantado com o desempenho intelectual do seu rebento que pareceu não levar muito a sério minhas palavras. Conversei também com Sérgio. Tentei mostrar-lhe que estava em decadência espiritual e que estava muito fascinado com o seu mundo atual. Ele parecia distante. Minha surpresa maior se deu quando lembrei-o do seu antigo desejo de ser pastor. Ele, simplesmente, disse que não se lembrava disso.
   Mais tempo passou e acabamos por nos separar. Ele foi para outra cidade, prosseguiu nos estudos e chegou a fazer mestrado. Recentemente, soube que ele agora se declara ateu. Apesar da tristeza que senti, não cheguei a ficar surpreso.
    A vida espiritual inclina nossos pensamentos para um lado ou outro. Antes da descrença, ocorre um afastamento de Deus. O esfriamento do coração precede ao da mente. O filósofo Blaise Pascal afirmou: "Quase que invariavelmente as pessoas formam suas crenças não baseadas nas provas, mas naquilo que elas acham atraente". Crer no Deus cristão leva o homem a determinadas responsabilidades. Jesus mesmo nunca omitiu dos seus possíveis seguidores o compromisso que requeria deles: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (Mt. 17:24). Se alguém não estiver disposto a pagar o preço, talvez possa começar a pensar que ele nem mesmo exista. Este comportamento foi expresso de forma brilhante pelo escrito francês Paul Bourget (1852-1935): “É preciso viver como se pensa, caso contrário se acabará por pensar como se tem vivido”.
   Não estou advogando aqui que não haja argumentos intelectuais para o ateísmo. Ocorre que muitas vezes esta opção está ligada a um anseio de liberdade e independência. O ateu se sente livre das amarras de um Deus soberano e juiz dos seus atos. Na verdade, nenhum homem é plenamente livre. Somos escravos de Deus, dos homens ou de nossas próprias e toscas ambições. O crente não sente nenhum constrangimento em chamar a Deus de seu Senhor. Gênios do porte de Isaac Newton, Faraday, Bach, John Milton e Francis Collins comprovam que a fé não tolhe a capacidade criativa do homem.
   A verdade é que confiamos em quem amamos. Quanto mais estivermos em comunhão com Jesus mais confiaremos nas suas palavras. Talvez ninguém tenha dito isto de forma mais enfática do que Dostoiévski. Escrevendo a um amigo, ele disse: “Amo tanto a Cristo, que se me provarem que Cristo está contra a verdade, fico com Cristo”.  

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