terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Construção da Dor


JOÃO TOMAZ PARREIRA

A preservação da memória nada tem de virtual no Museu do Holocausto, em Jerusalém.
O chamado Yad Vashem é um memorial do povo Judeu aos seus seis milhões de mortos, na Solução Final da Questão Judaica.
O monte onde foi edificado em 1953 e está instalado até hoje o museu «dos heróis e vítimas do holocausto judeu», o Yad Vachem, é uma montanha documental.
Ao designar-se como Monte da Comemoração, sublinha, toponimicamente, não apenas a lembrança do passado, como uma catarse continuada, mas também «o labor para educar os jovens no sentido de que não esqueçam o que sucedeu durante a Segunda Guerra Mundial e a solução final orquestrada por Adolfo Hitler» - afirmaria a chefe da diplomacia israelense, a senhora Tzipi Livni.

Recordação e Depressão na alma europeia
Sem dúvida que recordação é o vocábulo central, cuja semântica toca, psicologicamente, o vazio deixado por seis milhões de mortos, a chama física do lume que ilumina os nomes dos 21 campos de extermínio nazis, a escrita em basalto negro, a crueldade sistematizada num programa de extermínio, os testemunhos de 62 milhões de documentos, as 267.500 fotografias, os milhares de vídeos com a palavra testemunhal de sobreviventes desse período que escureceu a identidade da Europa.
Tudo isso é o Museu do Holocausto, ao qual foi atribuído em 2007 o prestigiado Prémio Princípe de Astúrias, na categoria de Concórdia.
Mesmo que não possamos visitá-lo, que façamos apenas uma visita virtual no sítio www.yadvashem.org, a verdade é que a dimensão da tragédia, a construção da dor, o trauma continuado nos valores e na cultura ocidental, desde as décadas de 30-40 do século passado, se mantêm como uma «depressão» na alma europeia contemporânea.
Livros, filmes, documentários passam transversalmente por todo o mundo, e não será hiperbólico falar de «chama eterna» da memória desses factos terríveis, que ganharam uma dimensão trágica -estudada hoje nestes termos - nos domínios da estética, da ética, da biologia e da religião.
E a notícia do Prémio Princípe de Asturias atribuído ao museu israelense sublimou tudo o que ao longo destes mais de 60 anos se tem levado ao conhecimento dos homens, a nível planetário. O director da instituição, Avner Shalev, considerou mesmo que tal galardão «é vital à existência deste museu para que as gerações futuras não olvidem o passado e a crueldade da Alemanha Nazi.»
O que se passou na Europa Central entre 1941-1944, estrutura-se hoje ao nível dos estudos mais do carácter humano, dos não-valores culturais, éticos, morais e religiosos dos protagonistas germânicos, e não só, que das políticas vigentes à época na Alemanha e países ocupados. O modo funcionário de matar, nada teve de eventual.
Assim, existem obras de análise profunda e bem documentada sobre «a esquematização das crenças dominantes na Alemanha acerca dos judeus».
Com efeito, os judeus na estrutura do Estado Nazi eram considerados por este, um mal e uma ameaça, o perigo que representavam era incalculável e extremo, alegadamente queriam destruir a Alemanha e o grau da sua malignidade era enorme, por isso tinham que ser eliminados. A atitude ética perante eles, classificava-os «como não humanos, fora do alcance da ordem moral.»
A crença dominante quanto aos judeus afirmava que eram «uma ofensa ao sentido da ordem e valores».
Assim, o genocídio perpetrado baseou-se em que os judeus ofendiam a Alemanha e a Europa- eram o Mal-, sendo este o pensamento primário começado por Hitler, já em 1920, quando escreve «Por que somos anti-semitas?». Intencionalidade e funcionalidade deram origem a uma política que teve pouco a ver com religião, embora o anti-semitismo advenha desta. E, no entanto, na história da eliminação dos judeus, dois termos de conteúdo teológico e bíblico dos
textos sagrados, ergueram-se e mantêm-se até hoje. Holocausto e Shoah.

Holocausto e Shoah
Vale a pena referir que ambas as palavras, pertencendo ao universo do Velho Testamento, tiveram um sentido para os judeus, na memória posterior aos factos. Já Hitler usaria outro termo, antes dos factos, supressão. Para isso recorreria a pactos com o sobrenatural, se fosse preciso, afirmando estar disposto a «unir as nossas forças às do Demónio».
Mas muitos judeus preferem o vocábulo Shoah, que é uma palavra em língua iídiche (dos judeus alemães e do Norte da Europa), que significa «calamidade», a essoutra mais conhecida, holocausto, que em grego quer dizer «queimar totalmente», porquanto deriva do hebraico bíblico ôlâh, ôlâh A razão, por isso, parece estar no domínio da vergonha teológica. Muitos judeus e até cristãos hoje acreditam que é teologicamente ofensivo sugerir que os judeus da Europa foram um sacrifício a Deus.
A raíz superlativa da prática do holocausto radicava no sacrifício de vítimas animais, cabras, novilhos, aves, sobretudo cordeiros.
Os judeus, perseguidos desde a constituição oficial do Cristianismo, no século IV, eram já suficientemente animalizados com ataques verbais e físicos e tornaram-se sinónimos de Demónio. Foram seres «socialmente mortos», durante o período nazi, mas não animais.
Embora o «holocausto» fosse desprovido para os nazis de qualquer sentido bíblico, era uma perpetração monocausal, era o assassínio em massa derivado do anti-semitismo visceral.
Ao prefeirem Shoah, por um conjunto de razões entre elas a teológica, os judeus aplicavam a si o conceito semântico bíblico do que caiu sobre o povo de Israel, a calamidade, por considerarem teologicamente ofensiva a natureza do significado original de «holocausto».
Uma construção da Dor, do exílio e morte, de que os hebreus também foram obreiros e que por terceiros sobre eles se abateu, uma calamidade que vinha desde as margens dos rios da Babilónia, onde se sentaram e choraram, lembrando-se de Sião, até aos «assassínios-em-linha-de-montagem».

(1)O extermínio sistemático dos judeus começou no verão de 1941 na União Soviética
(2)- GOLDHAGEM, Daniel; Os carrascos voluntários de Hitler, Notícias Editorial, 1999, pp.. 707 e ss.

Um comentário:

SOS DIREITOS HUMANOS disse...

DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA...




"As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirão
têm direito inalienável à Verdade, Memória,
História e Justiça!" Otoniel Ajala Dourado




O MASSACRE APAGADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA


No município de CRATO, interior do CEARÁ, BRASIL, houve um crime idêntico ao do “Araguaia”, foi o MASSACRE praticado por forças do Exército e da Polícia Militar do Ceará em 10.05.1937, contra a comunidade de camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, que tinha como líder religioso o beato "JOSÉ LOURENÇO", paraibano de Pilões de Dentro, seguidor do padre Cícero Romão Batista, encarados como “socialistas periculosos”.



O CRIME DE LESA HUMANIDADE


O crime iniciou-se com um bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como metralhadoras, fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram na “MATA CAVALOS”, SERRA DO CRUZEIRO, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como juízes e algozes. Meses após, JOSÉ GERALDO DA CRUZ, ex-prefeito de Juazeiro do Norte, encontrou num local da Chapada do Araripe, 16 crânios de crianças.


A AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELA SOS DIREITOS HUMANOS


Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará É de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO é IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira e pelos Acordos e Convenções internacionais, por isto a SOS - DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - CE, ajuizou em 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo que: a) seja informada a localização da COVA COLETIVA, b) sejam os restos mortais exumados e identificados através de DNA e enterrados com dignidade, c) os documentos do massacre sejam liberados para o público e o crime seja incluído nos livros de história, d) os descendentes das vítimas e sobreviventes sejam indenizados no valor de R$500 mil reais, e) outros pedidos



A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO


A Ação Civil Pública foi distribuída para o Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, redistribuída para a 16ª Vara Federal em Juazeiro do Norte/CE, e lá foi extinta sem julgamento do mérito em 16.09.2009.



AS RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5


A SOS DIREITOS HUMANOS apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife/PE, argumentando que: a) não há prescrição porque o massacre do Sítio Caldeirão é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos mortais das vítimas do Sítio Caldeirão não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do CZAR ROMANOV, que foi morta no ano de 1918 e a ossada encontrada nos anos de 1991 e 2007;



A SOS DIREITOS HUMANOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA


A SOS DIREITOS HUMANOS, igualmente aos familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, pelo desaparecimento forçado de 1000 pessoas do Sítio Caldeirão.


QUEM PODE ENCONTRAR A COVA COLETIVA


A “URCA” e a “UFC” com seu RADAR DE PENETRAÇÃO NO SOLO (GPR) podem encontrar a cova coletiva, e por que não a procuram? Serão os fósseis de peixes procurados no "Geopark Araripe" mais importantes que os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO?



A COMISSÃO DA VERDADE


A SOS DIREITOS HUMANOS busca apoio técnico para encontrar a COVA COLETIVA, e pede que o internauta divulgue esta notícia em seu blog, e a envie para seus representantes no legislativo, solicitando um pronunciamento exigindo do Governo Federal Brasileiro que informe o local da COVA COLETIVA das vítimas do Sítio Caldeirão.



Paz e Solidariedade,



Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
Membro da CDAA da OAB/CE
www.sosdireitoshumanos.org.br