segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Sinfonia/Symphonía

As línguas é o que têm, quando se universalizam entram no património de família de todos. E algumas palavras trazem em si conotações que vão além do seu significado mais comum. Um termo de ontem, dos tempos brilhantes de Homero, multiplicou-se até hoje. É o caso do vocábulo sinfonia.

Roland Barthes, o malogrado filósofo também da linguagem, chamava a estas palavras anfibológicas. Significam ao mesmo tempo duas coisas diferentes, não é porém o caso de «sinfonia».
De um modo geral, escrevia ele em «Roland Barthes por Roland Barthes», que o contexto de uma dessas palavras obriga a escolher um dos dois sentidos e a esquecer o outro. «São as palavras duplas», que, no entanto, « mantém os dois sentidos como se um deles piscasse o olho ao outro».

Sinfonia ou, como no grego koiné, symphonía (harmonia, harmonioso, coexistência), abarca o acordo entre as pessoas, a harmonia de sentimentos entre comunidades e povos, e a reunião harmónica de sons.

No princípio era o acordo, a concordância, e estava mais ao alcance dos homens que dos deuses.
Homero escrevia classicamente na Odisseia o termo synesis, o «acordo» entre dois rios, na sua junção. E na Íliada também a palavra «juntar» tinha o mesmo sentido e a sua forma e uso eram explícitas.

A língua helénica, na sua vertente franca, o Koiné, está também na base da doutrinação cristã e dos textos sagrados do Novo Testamento.
Com efeito, lemos a palavra «sinfonia» no Evangelho Segundo Mateus (18,19), no Novum Testamentum Graece.
E aí tratava da harmonia dos concordes, no que respeitava à doutrina e à vivência em comunidade cristã.
A ética cristã colocava ao lado do ideal da concórdia entre os homens, no mundo, a fé de que o Céu sancionava e respondia às petições dos membros da comunidade chamada Igreja.
Diz o texto sagrado «também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus».

Aqui nós temos um exemplo de um outro processo interessante para a presença das palavras gregas em línguas europeias. O verbo «concordarem» tem para nós hoje o mesmo sentido e infere-se dele um outro sentido mais universal que, sendo a harmonia dos contrários, está bem patenteado no que se designa desde a antiquíssima Ática por Olimpíadas.

Não será por acaso, contudo, que no decurso destes Jogos Olímpicos, e adstrita aos mais despudorados interesses políticos, económicos e geo estratégicos, das duas potências Federação Russa (Ossétia do Sul) e Estados Unidos (Georgia), a sinfonia esteja a ser estragada pelos ruídos da guerra.
Com outra palavra a intrometer-se como causa primordial: Petróleo. Usado hoje em todas as línguas, não foge à lógica de unir pelos piores motivos. -J.T.Parreira

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