sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TEMOR, TREMOR OU MEDO?


“... desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.”   (BEG, Carta aos Filipenses, 2.12-13)

 

Essa passagem da carta de Paulo sempre provoca interrogação, por causa da tradução, quando emprega dois substantivos abstratos, derivados de verbos que podem ser sinônimos entre si (temer/tremer) e, ambos, sinônimos do substantivo medo. Todos eles provêm da língua latina e, basicamente, levam ao significado de “apavorar-se”, “perder o autocontrole”. Será essa a mensagem do apóstolo?

Primeiro devemos notar que Paulo mostra que o homem não tem decisão por si mesmo; mas, é motivado pelo próprio Deus, “que efetua em vós tanto o querer como o realizar.” Essa é a razão para que se aja com “temor e tremor”. Trata-se de um temor no sentido de cuidado. Temor de assumir atitudes opostas ao querer divino; isso é, devemos “ter medo” de agir por conta própria. Essa construção é peculiar entre os falantes do português.

Frequentemente dizemos: “Tenho medo de perder a hora”; evidentemente não se trata de termos pavor da ocorrência; mas, denota o cuidado que temos com a pontualidade.

Tremor também assume a noção de profundo respeito, absoluto reconhecimento do poderio divino. Rigorosamente falando, o apóstolo não infunde “pavor”: estimula obediência mui respeitosa (Salmo 99).

Fisicamente, nenhum ser humano resistiria vivo, ante a presença de Deus; no entanto, diversos trechos da Bíblia põem Deus com escudo, proteção, guarda, segurança. Diz Habacuque, o profeta: “O Senhor é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corsa, e me faz andar altaneiramente.”

Então, o profeta não teme, nem treme diante do Senhor? Claro que teme: põe em Deus toda a sua confiança, reconhece seu estado humilde. Claro que treme: tem absoluta certeza do poder indiscutível de Deus.

Izaldil Tavares

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