quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Pobre felicidade



por George Gonsalves

A foto acima é ilustrativa de um conceito moderno de felicidade. Um homem consegue ser um dos primeiros compradores de um smartphone de última geração, destes que serão parafernálias ultrapassadas no verão seguinte. Uma definição atual de bem estar poderia ser expresso assim: “feliz é quem pode comprar”. Ou seja, é a vitória do “ter” sobre o “ser”.   
     Segundo o historiador Georges Minois, o mercado e os Estados procuram levar as pessoas a pensarem que o consumo as fará realizadas: "A finalidade é formar um cidadão feliz o bastante para comprar e convencido de que será ainda mais feliz graças a suas compras".[1] Muitos cristãos embarcaram nessa falácia, a ponto de existir até uma “teologia” da prosperidade. Haveria uma mudança apenas sobre o meio de se receber os bens. No caso do crente, Deus seria o “canal” para o recebimento de bençãos materiais. O fim é o mesmo.  
      Não pretendo aqui fazer um protesto contra a sociedade de consumo, embora há críticas importantes a se fazer a ela: individualismo, superficialismo, materialismo, etc. Também não quero negar que Deus abençoe materialmente seus servos, embora precisemos saber que somos mordomos, e não donos do que recebemos. O que quero enfatizar é que o Senhor pode nos alegrar mais com Sua presença do que com coisas materiais. Nenhum pai idôneo gostaria que seu filho preferisse ganhar brinquedos a estar consigo. Nosso clamor deveria ser o do salmista: “Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” (Salmo 16:2), ou ainda o de Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta” (João 14:8).      
    O que buscamos para sermos felizes? O que tem mais nos alegrado ultimamente? Estamos satisfeitos com Deus, independentemente de nossa conta bancária? Ele nos basta? O que pedimos mais a Ele? Nossos maiores sonhos são de consumo? Estas são perguntas que podem ser constrangedoras para muitos.
Na verdade, tendo a Deus Todo-poderoso como pai, corremos o risco de nos conformamos com pouco, apenas com aquilo que o mundo pode dar. Mais do que nunca me parece atual a reflexão de C.S. Lewis feita há mais de cinquenta anos: "se analisarmos as audaciosas promessas de galardão e a natureza surpreendente das recompensas prometidas nos Evangelhos, pareceria que Nosso Senhor considera nossos desejos não muito fortes, mas muito fracos, isto sim. Somos criaturas sem entusiasmo, brincando feito bobos e inconsequentes com bebida, sexo e ambições, quando o que se nos oferece é a alegria infinita."[2]

Publicado originalmente no blog Graça e Saber.


[1] A Idade de Ouro - História da busca da felicidade. São Paulo: Ed. Unesp. 2011 p. 406.
[2] O peso de glória. São Paulo: Ed. Vida. 2008, p. 30

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