terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Livros, leitores e editoras: qual o futuro?

Créditos da imagem: Folha de São Paulo

Este não é um post profético. É uma síntese atravessada do mercado de livros, da leitura em nossas igrejas e uma tímida projeção. Ficou grandinho, acho que vale a pena lê-lo até o fim. Minha única pretensão é o combustível do blog: refletir. Não é á toa que nosso lema é Reflexões Sobre Quase Tudo!

O ponto de partida é a entrevista de Pedro Herz, dono da Livraria Cultura á Folha de São Paulo, hoje, 21/02/2010. Ele faz as seguintes análises mestras, entre outras:

1) Há ainda pouco mercado para os e-readers. Se você ainda não está antenado com esta tecnologia, clique aqui. Ele conta que gastou US$ 80 viajando no metrô de um lugar a outro, em Nova York, fazendo um levantamento informal de quantos leitores adeptos da nova tecnologia iria encontrar. Só encontrou um! Isto no país mais desenvolvido do mundo. De livros comuns encontrou vários. É mais ou menos como aquele celular que tem Bluetooth, mas você nunca enviou nem recebeu nada. Tem uma câmera de 10.2 megapixels, mas você só tira fotos no seu próprio equipamento. Conheço muita gente com celular de última geração que só usa o despertador, além da agenda e de telefonar;

2) O volume de vendas das lojas virtuais aumenta com a instalação das lojas físicas. Traduz segurança para o consumidor. Em tempos de internet, esperaríamos o contrário. Isto não quer dizer que a Internet é ruim. Ele diz que na rede da Cultura é a segunda loja. Mas a questão é que a quantidade de lojas está relacionada às vendas no ambiente virtual. Segundo suas palavras, não é raro o cliente imprimir a descrição do livro que pesquisou na Internet, trazê-la até a loja e comprá-lo.

Em Pernambuco sofremos com este problema. Não há filiais da CPAD e da Luz e Vida (as duas que acho melhores), por exemplo, sequer nas cidades da Região Metropolitana. O que custaria ter uma filial com tamanho e estoque menor? Se há 500 Dake's numa CPAD Recife, por que não 50 numa loja pequena em Camaragibe, com 200.000 mil habitantes ou Abreu e Lima, com 40% de evangélicos? É uma pergunta para a logística responder. Nem as grandes redes se aventuraram ainda. Lógico, que a estrutura se concentra aonde há consumo, mas o marketing ensina que ele pode ser criado. Ou seja, onde não há consumo ele pode ser estimulado. É o caso das lojas de móveis, que interiorizaram a não mais poder. Em Abreu e Lima, por exemplo, há duas lojas da Insinuante, o maior varejista do Estado!

3) O volume de vendas está em crescimento, mas os verdadeiros leitores estão escasseando. Herz não diz, mas é fato que a leitura no Brasil é superficial. A explicação dele é mais do que lógica, os pais que gostam de ler transmitem o hábito para os filhos. Como as famílias de classe média e alta, aqueles que efetivamente sabem o valor de uma biblioteca, estão diminuindo os descendentes, faltam leitores. Veja o que ele diz, prestando atenção em nossos destaques:
Folha - O sr. vê algum novo nicho a ameaçar as vendas de livros nas livrarias?

Herz - A grande ameaça que existe é a não-formação de novos leitores. As famílias [ricas] que tinham cinco filhos há um século, hoje ou não têm nenhum ou têm um, no máximo dois. O número de leitores cresce pouco, se é que cresce. Se você pegar o universo da classe D, esse pai não tem orgulho nenhum do que faz, nem a mãe. Então a compra de um lápis significa para ele um investimento na educação de um filho. Acho isso extremamente bacana, é um raciocínio válido, mas sabemos que é insuficiente. O apagão do ensino taí, a dificuldade que temos de admitir gente é homérica. A gente aplica testes básicos dos básico de conhecimentos gerais razoáveis. A gente quer que o candidato leia jornais, uma revista, que seja atualizado. Você pergunta para ele quem escreveu "Dom Casmurro", metade levante e vai embora. E são todos universitários formados. E não sou o único que tem esse tipo de problema. Falei com outros empresários, de outras áreas, que têm exatamente o mesmo problema. Gente que não encontra engenheiros, que não encontra médicos. Veja o resultado do Enem. Está difícil acreditar. Esse crescimento anunciado é sustentado? Ou é um momento de paternalismo que está aí? Estou procurando gente [para as lojas] no Nordeste, tem gente que não quer ser registrada. Perguntamos por que, e dizem: "Ah, porque eu recebo a Bolsa [Família], minha mulher recebe a Bolsa". E a população cresce nesses lugares do Nordeste. E gente esclarecida que pode ter filhos está tendo cada vez menos, se é que está tendo. Conheço casais de amigos, leitores, muito bem casados, felizes, que preferiram não ter filhos.
Noutra parte afirma, conhecedor de diversas realidades:
Gente, o Brasil é o único país em que as bibliotecas fecham no fim de semana, quando os pais podem levar os filhos.
Relembro que os leitores da Bíblia estão rareando também, apesar da enorme quantidade de livros vendidos pela SBB e editoras correlatas e seus sucessivos recordes. A razão é simples: muitos portam uma Bíblia, poucos a lêem! Nem mesmo as Bíblias de Estudo fogem do paradigma, como eu já frisei aqui. Infelizmente, as editoras festejam os números, mas os leitores não lêem efetivamente os títulos. Cansei de observar obreiros em pleno púlpito acompanhando as notas de rodapé de um texto, TÃO logo e no momento que ele seja lido! Ou seja, somente NAQUELE exato momento o manancial ao redor do texto, contido nas Bíblias de Estudo, fora descoberto pelo leitor.

Acrescento um outro dado interessante: está diminuindo a quantidade de crentes que sabem versículos memorizados. Aqui, em Pernambuco, temos o costume de pedir que os irmãos citem versículos, enquanto os diáconos distribuem o vinho ou até mesmo o pão da Ceia do Senhor. É uma maneira elevada de preencher o tempo. Pois bem, está cada vez mais difícil tal tarefa, tanto que muitos obreiros substituem o costume por um cântico ou algo semelhante. Simplesmente, não há candidatos a citarem versículos. Ou, então, são poucos e previsíveis citações, como o Salmo 23. Notem que eu nada tenho contra o Salmo, mas reflito sobre o declínio. Declínio este, também, verificado na quantidade de pessoas que hoje se orgulham de terem lido a Bíblia toda ao menos uma vez na vida.

Nossos jovens são gamers. É uma realidade alienante. A geração internet gasta tempo bisbilhotando e o que chamam de informação é uma colcha de retalhos, moldada para causar uma impressão, a que estão incluídos digitalmente. Tanto que há pessoas que não sabem ler, nem escrever corretamente, mas possuem um Orkut, outros possuem computador, navegam na Internet, mas não sabem formatar um documento em duas colunas no Word!? Nos Governos há quem acho isto correto, o que basta é o diploma. Sei não...

O Herz só não se referiu
, é claro, aos altos preços da Livraria Cultura. Sempre tem os livros que procuro e, se não tem providenciam de uma maneira surpreendente. Já comprei até importados, com excelente velocidade de entrega, mas os preços são altos. Creio, por outro lado, que o problema não é o valor, mas como valoramos o que compramos. Há quem dê R$ 100,00 numa fantasia de Carnaval (e foram milhares nos blocos em todo o Brasil) ou num jantar, por que não num livro? É uma questão de percepção.

Por falar nisso, creio que o preço dos livros evangélicos poderia ser bem mais baixo. Não sei se estimularia o consumo e a leitura. O primeiro talvez, mas o segundo é uma questão cultural. O brasileiro lê muito pouco. E esse pouco se concentra em amenidades e informações inúteis como horóscopo, vida artística, tendências futebolísticas e assemelhados. Já disse aqui que implantando um sistema numa banca de revistas, fiquei surpreso com a grande quantidade de pessoas que compravam uma tal de Viva!, inclusive, muitas mulheres crentes. Folheando a revista não encontrei absolutamente nada importante. Ela versa sobre o dia-a-dia das celebridades. É brincadeira? Nosso povo ocupado em saber uma atriz famosa comeu, ou o que faz para se manter bronzeada?

Ah! Quem escreveu Dom Casmurro foi? Não ouvi, quem foi mesmo? E se fôssemos falar em leitura devocional da Bíblia?

Clicando aqui, você lê a entrevista completa. E por falar em livros, a ISTOÉ vai lançar alguns clássicos em formato especial e a preço de banana, a partir desta semana.

Publicado em Reflexões Sobre Quase Tudo! Proibida a reprodução sem autorização do autor: Daladier Lima dos Santos.

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