quarta-feira, 27 de agosto de 2008

*O Pródigo e o dinheiro

BlockquoteAnálise

Pai, dá-me a parte da herança que me pertence.
Lc. 15,11

Pequenina, mas insistente, como uma mosca -parafraseando um conto de Albert Camus-, voando num espaço fechado, mantinha-se ainda a imagem do pai na mente do Pródigo.
Um rosto onde a alegria do sol resvalava nas rugas, fatigado e triste, um corpo curvado, avançando a custo, debilmente com a luz da manhã, parecendo querer alcançar o filho que partia.
Quando acordou, no dia seguinte, o Pródigo pensou nisso, mas o sol da nova cidade a detalhar a sua sombra na rua desconhecida, mas fervente de uma vida livre, cosmopolita, há muito desejada, fê-lo esquecer o pai e pensar no que haveria de fazer com o dinheiro da herança.

Era assim que começaria um conto sobre o Filho Pródigo, não fosse o caso de pretender tão-só pensar no peso que os bens da herança exerceram sobre o jovem e o influenciaram a deixar a casa paterna.

À parte a teologia evangélica da parábola do Pródigo, para a altura em que Jesus Cristo a contou, e depois a exegese sob o prisma da sotereologia (a doutrina da Salvação), seria uma parábola com um cunho de incontornável modernidade.

Jamais nas relações patriarcais semitas, um filho deveria ter tomado uma decisão tal de afrontamento ao pai, ao patriarca da família, exceptuando aqui, por exemplo, a história de Absalão e David.

Neste aspecto é uma história de ideias. Um filho que tomou uma atitude, por assim dizer, que ficaria entre o Édipo, que lhe era muito anterior, e Freud que viria quase vinte séculos depois.-JTP
*Publicação antecipada de artigo a sair no Portal Evangélico da AEP e da revista Novas de Alegria, Lisboa.

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