terça-feira, 5 de agosto de 2008

Metendo a mão na cumbuca!

Ano passado, em setembro, publicamos o artigo sobre política, reproduzido abaixo. Não é uma prática corriqueira para mim, prefiro os inéditos. Mas, pela urgência do assunto... Ficou grandinho, mas vale a pena ler. Lamentável que muitas lideranças não terão oportunidade de fazê-lo. Inserimos algumas revisões. Aguardo seus comentários.

Isenção, sim, omissão, não!

A política brasileira está caótica, disso ninguém duvida. Os fatos recentes atestam a falência completa do modelo de governo ora em funcionamento no Brasil, senão do próprio Estado. Das Câmaras de Vereadores às Assembléias Legislativas, das Prefeituras ao Palácio do Planalto, os conchavos, as negociatas, as conveniências e os desmandos brotam com a conivência dos eleitores, através dos seus votos. Não custa lembrar que os políticos não caem de Marte, são nossos vizinhos, amigos e parentes. Entre eles estão nossos irmãos da igreja. Entretanto, há algo de errado no modelo de política ora em curso, porque os que desejam agir corretamente são gradativamente banidos de cena. Mas não é sobre isso que quero falar.

Na guerra do voto, a igreja evangélica, em função de seu expressivo crescimento numérico, experimenta o assédio no topo e na base. No topo, se tenta constranger a liderança regional ou local a decidir-se pelo apoio a um determinado candidato, o que, em tese, carrearia os votos dos eleitores para o escolhido. Digo em tese, porque esta idéia já se confirmou verdadeira, mas não se sustenta mais. Meu avô, que era pastor numa pequena cidade de nosso Estado, recebia os seus membros no dia da eleição para aconselhá-los em quem votar, e eles votavam mesmo! Quando os membros, entre outras coisas, começaram a observar as motivações da liderança para os apoios (e isto não necessariamente se confirma no caso dele), cada um passou a se autogerir na matéria, e em outras que não são a razão desta mensagem.

Os políticos descobriram que este modelo axiomático pode ser carcomido, cooptando lideranças menores através de cargos, por exemplo. Foi o que fizeram alguns prefeitos, vereadores e deputados empregando tais lideranças menores ou seus indicados, especialmente seus filhos, tornando-os reféns, compromissados pelo favor outrora recebido. Neste cenário, não importa o direcionamento dos líderes mais elevados, pois os menores já estarão compromissados, trazendo consigo seus satélites, que são poucos por si mesmos, mas somados serão um enorme contingente. É uma lógica perversa, que pulveriza o poder, e serve aos interesses mais imediatos, repulsivos e complexos.

Por complexo entenda-se tirar muitas vezes o único sustento de alguém. E por repulsivo negociar a própria honra. É o que aconteceu a um presbítero amigo nosso, que até animais sacrificou em encruzilhadas, vendendo a própria alma para ser eleito. Diz-se que foi possuído por um demônio e estebuchando ficou ali, como um adepto de uma seita afro. Se formos falar da corrupção entre nossos parlamentares, basta citar o seguinte fato: no famoso Escândalo das Sanguessugas, dos 283 deputados envolvidos, boa parte deles fazia parte da chamada “bancada evangélica”!

Temos, então, que a motivação para tal abertura política seja o fato de que muitos líderes mais elevados auferiram benefícios para si mesmos ou para pessoas de sua família, instaurando explicitamente o “vale-tudo” político, no qual o interesse principal era o benefício pessoal. Essa debandada atrás de vantagens corroeu a igreja evangélica de Norte a Sul. Grandes pregadores abdicaram de suas chamadas para serem “usados por Deus na política”. Eu conheço um, de origem japonesa, que pregava muito por aqui, hoje está apagado. Outros foram inflados por lideranças expressivas, e ai de quem se contrapusesse a elas, pois estariam condenados ao degredo, onde ainda estão muitos de nossos irmãos, que com amor tentaram mostrar aonde chegaríamos nessa "torpe ganância". Em troca do apoio, filhos, netos e parentes dos mais diversos níveis foram instalados nas Câmaras, nas Assembléias Legislativas, nas Prefeituras e nos Governos em geral. Indicados para cargos expressivos, que não precisavam de concurso, ganhando bem porque alguém podia fazer a indicação.

Lembro que estava numa determinada Ceia do Senhor, quando, perto do final, chega um deputado evangélico, candidato à reeleição. O pastor daquela congregação aparentava ser um homem espiritual, gostava de orar e profetizava. Em dado instante, chamou a atenção do público e anunciou: Está aqui o irmão fulano de tal. Ele é nosso deputado, etc e tal. Já votei nele cinco vezes, e votarei tantas vezes se candidate. Resumo: dois filhos eram apadrinhados pelo dito político, recebendo bons salários por sua indicação. Benefício direto. Um dos irmãos saiu daquela Ceia revoltado, enquanto eu fiquei pensando: Coitado, veio cear e foi induzido a murmurar!

A mensagem que se pregava para convencer os incautos, era que a igreja precisava de alguém para defendê-la. Grupos de pressão estariam contra nossa liberdade religiosa (que por sinal não foi conseguida pela política partidária, mas pela política institucional, quando houve uma imensa influência americana e inglesa protegendo os pais das igrejas evangélicas brasileiras), e era preciso defendê-la. No caldeirão que se formou, entraram os neo-pentecostais, que pragmaticamente elegeram candidatos, para depois perdê-los para a corrupção (veja outros artigos neste mesmo blog). No fundo, todos nós sabemos que se o salário de um vereador, deputado, prefeito ou governador fosse o mínimo, de R$ 415,00, sem quaisquer regalias, ninguém estaria tão disposto a defender a igreja. A motivação é, portanto, a seguinte equação: o salário + as mordomias = o poder temporal que a igreja execrou por longo tempo. Quem não gostaria de duas férias anuais?

Neste contexto, determinadas lideranças menores imaginaram que poderiam correr atrás de seu próprio “pé-de-meia”, e o processo culminou no ponto em que estamos. O cenário desenhado é de falta de sintonia, fragmentação de tendências, por que os interesses são diversos e vorazes. Imagino que para solucionar a equação e minimizar suas repercussões, só restou a possibilidade de esvaziar o poder de tais pessoas. Mas não é muito simples, porque o senso comum vem nos dizer que tirar a vantagem depois de dada sempre causa dor. Melhor seria que nem tivéssemos metido a mão nesta verdadeira cumbuca!

O assédio na base é um ciclo rasteiro em cima da ignorância e da ingenuidade de nosso povo. Como disse aqui no blog dias atrás, perguntei a uma moça porque ela ia votar num determinado deputado estadual, e ela me respondeu com outra pergunta: Qual o deputado que mais traz cantores de renome para nosso Estado? Este raciocínio permite que se promovam concentrações e shows gospel, disfarçados de comício. Como se pregar a Palavra de Deus fosse atribuição de candidato, numa completa inversão de valores. Nisto é inegável o prejuízo para a própria pregação do evangelho, porque os “Domicianos” oportunistas infiltram-se entre nós com o intuito único de ganhar a eleição, e beneficiar um ou outro indicado, que da forma como é feito o processo de escolha não faz muita diferença. Os cantores agradecem os gordos cachês e as mordomias, que agora se estendem aos pregadores. Virou chique pregar em showmício, disfarçado de concentração. Almas que é bom? Poucas, quando não nenhuma. Sem contar que muitas dessas despesas são financiadas com dinheiro público, através de notas fiscais duvidosas. Quando o Ministério Público cair em cima, muitos dirão que é o Diabo. Ouvi falar de empresas de fachada criadas para "cobrir" a farra, mas vamos deixar pra lá...

Temos, portanto, que a base é semi-analfabeta política, que alguns líderes estejam interessados em candidatar-se ou apoiar alguém e o estrago feito. Como se isso fosse pouco, ainda ecoa uma ponderação: Se nossa igreja, enquanto denominação formada por seus membros, é um grupo social, então precisa definir o apoio a algum candidato. Se não apóia, não pode cobrar. Esse raciocínio é o preferido dos candidatos, um ardil dos mais sutis para “engordar corações”. Um pastor, amigo meu, disse-me certa vez: Não podemos cobrar, se não votamos em alguém. Isso é uma falácia de primeira grandeza, e nela se apóiam os políticos brasileiros. Criam feudos onde ninguém entra. Ora, pensemos em nosso Estado. Por que um deputado estadual eleito na região de Caruaru não pode defender um projeto do interesse de Olinda? Segundo este raciocínio traiçoeiro, a resposta seria: Porque quem o elegeu foi Caruaru! Ora, o tal é deputado do Estado todo, logo é sua obrigação atuar em todo Pernambuco! Eles, espertos como são, se arvoram nesse senso comum para se omitir no que é importante para uma região onde não atuam.

Por outro lado, a igreja não é de ninguém, é uma organização interregional. Como pode ficar à mercê de um acerto aqui ou ali, uma cor partidária qualquer ou todas elas? Como pode arcar com o custo político de apoiar determinada candidatura? E se tal candidato vier a escandalizar o evangelho, a igreja pode bancar o custo político do problema? A igreja pode servir ao projeto pessoal de poder de alguém?

Todo esse palavrório, é para mostrar que a igreja pode, sim, se isentar dessa nojeira que se tornou a política brasileira. O que não podemos fazer é nos omitir. Devemos aconselhar nossos membros a votar corretamente, na intenção de mudar o perfil político partidário de nosso País. Enquanto isso, devemos nos fortalecer institucionalmente, enquanto organização séria e respeitada, para que possamos participar da transformação social que nosso povo precisa, assunto que tratarei em outro post.

Meu lema: isentos, sim, omissos, não.

Por fim três fatos:
Assistia a uma palestra de um renomado pastor, escritor e conferencista de renome mundial, no templo central das Assembléias de Deus em Recife/PE. Era a eleição de Lula x Collor, em 1990. Em dado instante ele disse: Meus irmãos não votem em Lula. Deus me mostrou o mapa do Brasil, com uma serpente o envolvendo, na testa da qual estava uma estrela, e a sigla PT no meio. Não duvido que isto tenha acontecido, haja visto os grandes escândalos do Governo Lula. Mas, Deus só não revelou a ele que Collor sacrificava animais em rituais de bruxaria.

O Superintendente da UMADAL havia viajado para o Equador. Eu era o secretário, e não havia vice-superintendente. Um dirigente, adepto de determinado deputado, católico de carteirinha, promoveu uma tal de “Caminhada pela Paz”, com o intuito de evangelizar. O percurso tinha uns cinco quilômetros (para quem conhece ia de Cruz de Rebouças - Igarassu ao centro de Abreu e Lima/PE). Decidi percorrer o caminho a pé, até porque íamos todos juntos cantando e louvando a Deus. Começaram a chegar os carros de som do “home”, eram vários, até aí era tolerável a situação. Em dado instante, ele com uma parte de sua família sobem a um dos carros e começam a acompanhar a caminhada. Acenam, vibram e falam com o povo de cima dos carros. Não acreditei, eu era o superintendente, pois o estava representando dado que viajando se encontrava, e não fui convidado a subir em carro algum?! Por respeito aos meus amigos e irmãos fui até o fim da passeata. Não o faria novamente. Agora deixe me dizer um detalhe: é notório que o tal candidato nunca gostou de evangélicos.

Trabalhei nas empresas de um candidato a deputado. Certa vez resolvia um bug no sistema em seu escritório político, quando surge um pastor. Ele conversou com o pastor, e quando este saiu começou a caçoar, dizendo: Estás vendo Daladier, teu irmão, o pastorzinho está na minha mão! E ainda traz os votos das ovelhinhas pra mim! Ouvi o deboche revoltado, não com o candidato, que por sinal é espírita e umbandista, mas pela manipulação que aquele líder estava fazendo no meio da igreja que Jesus lhe havia confiado. É assim...

Publicado originalmente em Reflexões Sobre Quase Tudo!

Um comentário:

maria madalena disse...

Sinceramente, parece-me que o irmão
leu meus pensamentes.Vivo enojada
pois há muito tempo aqui no templo
onde congrego,somente quando é ano
eleitoral, aparecem "autoridades importantes" para "cumprimentar" o
pastor que também é "importante" e
este coloca os ímpios sentados ao
seu lado e, tem o atrevimento de in
terromper o culto que os crentes estão prestando a Deus para que o
ímpio dê uma palavrinha à Igreja, ou seja, faça sua campanha política
suja, mentirosa, cheia de promessas mirabolantes, no púlpito, onde somente pastores, presbíteros e evangelistas teem o direito de se sentar, pois hoje é ali o Santo do Santo, onde o Espírito Santo de Deus dá a mensagem ao pregador.Depois de o ímpio falar suas asneirices, vai embora sem sequer ouvir a Palavra de Deus; e o estrago já está feito,
pois muitos irmãos ficam indignados com esse atrevimento do
pastor, vendido aos políticos.
Era aniversário do pastor, veio uma
candidata cumprimentá-lo, sentou-se no púlpito, vestida como homem, pois usava calça, obviamente teve oportunidade para falar e claro, não se converteu, pois sequer lhe
foi feito o convite,vez que a maioria dos crentes é que estão precisando se converter e não teem força espiritual para ganhar almas.
A tal candidata, uns dias depois foi à Bahia a um terreiro de umbanda, agradecer aos demônios pela cura de sua doença.Isto não é
um deboche para com a Igreja e o Pastor que "enfiou" aquela ímpia no
Santo do Santo? É por isto que o mundanismo invadiu as igrejas e não
se vê mais milagres, batismo no Espírito Santo, curas, obediência.
No passado era pecado as mulheres crentes cortarem sequer a pontinha dos cabelos, usar calças compridas.
Hoje, as filhas dos pastores, principalmente os da liderança, são
imagens perfeitas de Jezabel.
Aquelas que procuram andar conforme a Bíblia ordena são perseguidas com indiretas do pastor,quando no passado o mundo é quem debochava; mas hoje o pastor é quem debocha, critica, encosta em
um canto.Mas o Apóstolo Paulo fala disto:colocas ao pé de ti o pobre,
ms os que trazem anéis nos dedos pões ao teu lado.A politicalha existe na política secular, mas também nos Ministérios evangélicos,
infelizmente. E é uma coisa encarniçada que só Deus pode tirar
da mente dessa gente que está completamente cega e corrompida pela ganância de dinheiro, fama e poder.Quando a abominação na desolação estiver no lugar santo...
Há muito o que dizer, mas é hora de
parar. Parabens pela abordagem lúcida de um assunto tão grave que afeta a pregação do evangelho e a
salvação de almas. Creio que Deus cobrará caríssimo essa loucura que
muitos pastores estão cometendo contra Deus e o seu rebanho.