segunda-feira, 5 de maio de 2008

A grandeza do homem


A grandeza do homem é tão visível que se tira mesmo de sua miséria. Pois ao que é natureza nos animais nós chamamos miséria no homem; por onde reconhecemos que, como a natureza é hoje semelhante à dos animais, ele caiu de uma natureza melhor, que lhe era própria outrora.

Pois quem se acha infeliz por não ser rei senão um rei destronado? Haveria quem achasse Paulo Emílio infeliz por não ser mais cônsul? Não, ao contrário, todos julgavam-no mais infeliz por tê-lo sido, pois sua condição não era a de sê-lo sempre. Mas havia quem achasse Perseu tão infeliz por não ser rei, dado que sua condição era a de o ser sempre, que julgavam estranho o fato de ele suportar a vida. Quem se julga infeliz por ter apenas uma boca? E quem não se achará infeliz por só ter um olho? Talvez nunca alguém se haja lembrado de afligir-se por não ter três olhos; mas ninguém se consola com não ter nenhum.

Pascal, in Pensamentos

Um comentário:

vitorferolla disse...

“O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.” – Blaise Pascal