quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A ética em 6 pontos - Vítor Ferolla


Originalmente escrito como uma resenha do texto Os sete matizes de Ética de Luiz Martins para o curso de Comunicação Social - Jornalismo.

Ética, do francês antigo éthique, do latim ethice, do grego ēthikē. É um tema que precisa e sempre precisou de muito mais prática que reflexão. Resumido sabiamente em amar ao próximo como a si mesmo, a ética de acordo com Luiz Martins se divide em 7 matizes . Mas gostaria de desenvolver livremente o primeiro matiz, do qual me destacam várias discussões antigas e atuais, como debates entre os Filósofos Modernos ou pensamentos do Diretor do Projeto Genoma.

“Duas coisas me enchem de admiração e estarrecimento crescentes e constantes, quanto mais tempo e mais sinceramente fico refletindo acerca delas: os céus estrelados lá fora e a Lei Moral aqui dentro.”Immanuel Kant.

O pós-modernismo prega em resumo que não existe certo ou errado. Esse pensamento começa a se formular já durante o modernismo, Nietzsche é considerado o precursor do pós-modernismo. Mas dentro da filosofia se encontra um conceito que se formulou a partir das ciências naturais, que é o conceito de Lei Moral, ou Lei da Natureza do Certo e o Errado, ou como C.S. Lewis denomina em A Abolição do Homem: o Tao. Este conceito entra em choque com a filosofia predominante na contemporânea idade, que é a filosofia pós-moderna, ou popularmente falando: “Não existe certo ou errado, existe o que é melhor para você.”

Muitos consideram Nietzsche um filosofo forte, radical e revolucionário. Mas G.K. Chesterton, o filosofo inglês que superou Nietzsche explicando as contradições do pensamento moderno (que gerou o pensamento pós-moderno) assim escreveu no seu clássico (que comemorou centenário em 2008) Ortodoxia:

“Isso é no mínimo o avesso do intelectual; trata-se de mera expressão proveniente de uma torre ou de um cata-vento. ‘Tommy foi um bom menino’ é uma afirmação puramente filosófica, digna de Platão ou Tomás de Aquino. ‘Tommy levou uma vida mais elevada’ é uma metáfora grosseira proveniente de uma régua de dez metros. Essa, incidentalmente é toda a fraqueza de Nietzsche, que alguns estão representando como pensador ousado e forte. Ninguém negará que ele foi um pensador poético e sugestivo; mas foi exatamente o oposto de forte. Não foi de modo algum ousado. Ele nunca colocou suas idéias diante de si com palavras simples e abstratas, como fizeram os vigorosos e destemidos pensadores Aristóteles e Calvino e até mesmo Karl Marx. Nietzsche sempre se evadia de uma questão usando uma metáfora física, como um jovial poeta menor. Ele dizia ‘além do bem e do mal’ porque não tinha a coragem de dizer ‘melhor que o bem e o mal’, ou ‘pior que o bem e o mal’. Se ele houvesse enfrentado o pensamento sem metáforas, teria visto que se tratava de um disparate. Assim, quando ele descreve o seu herói, não ousa dizer ‘o homem mais puro’, ou ‘o homem mais feliz’, ou ‘o homem mais triste’; pois todas essas expressões são idéias, e as idéias são alarmantes. Ele diz ‘o homem superior’ ou ‘o super-homem’, uma metáfora física, baseada em acrobatas ou alpinistas. Nietzsche é realmente um pensador muito tímido.”[1]

Percebe-se que o pensamento pós-moderno não avança nem revoluciona em nada. Ao contrário, pensar que não existe certo e errado (relativismo moral) apenas regride tudo o que se entende de moral e conseqüentemente de ética. Sugiro o pequeno, porém fantástico livro de C.S. Lewis, crítico literário e professor de Oxford e Cambridge que possuí o título “Reflexões sobre a educação, especialmente sobre o ensino em inglês nas últimas séries” que é mais publicado com o título “A Abolição do homem”, pois além do argumento racional, também possui um apêndice fantástico mostrando exemplos da Lei Natural em diversas culturas do mundo ao longo da história. Até mesmo suas palestras sobre o Cristianismo na rádio BBC de Londres durante a Segunda Guerra Mundial, que foi o 2º programa de maior audiência, posteriormente compiladas no livro traduzido como “Cristianismo Puro e Simples” possuem reflexões interessantes sobre a Lei da Natureza do Certo e Errado.[2]

Estudando a fundo as questões e permitindo como dizia Sócrates “seguir o argumento até onde ele nos levar” parece inevitável chegarmos a conclusões como a do Diretor do Projeto Genoma, Francis S. Collins: “O que temos aqui é bastante peculiar: o conceito de certo e errado aparenta ser universal entre todos os membros da espécie humana (apesar de sua prática poder resultar em conseqüências brutalmente diferentes). Assim, isso parece mais a abordagem de um fenômeno do que de uma lei, como a lei da gravidade ou a da relatividade especial. Contudo trata-se de uma lei que, sejamos sinceros é infringida com uma freqüência impressionante.”3

Já que estamos discutindo sobre Ética, acho interessante aproveitar a linha da resenha e mostrar um exemplo extenso, porém real e interessante:

Conta Peter Kreeft que, um dia, ao dar uma das suas aulas de ética, um aluno lhe disse que a Moral era uma coisa relativa e que ele, como professor, não tinha o direito de “impor-lhe os seus valores”.
“Bem – respondeu Kreeft, para iniciar um debate sobre a questão- vou aplicar à classe os seus valores e não os meus. Você diz que não há valores absolutos, e que os valores morais são subjetivos e relativos. Como acontece que as minhas idéias pessoais são um tanto singulares sob alguns aspectos, a partir deste momento vou aplicar esta: toda as alunas estão reprovadas”.
O rapaz mostrou-se surpreendido e protestou dizendo que aquilo não era justo. Kreeft argumentou-lhe:“Que significa para você ser justo? Porque, se a justiça é apenas o “meu” valor ou o “seu” valor, então não há nenhuma autoridade comum a nós dois. Eu não tenho o direito de impor-lhe o meu sentido de justiça, mas você também não pode impor-me o seu… Portanto, só se existe um valor universal chamado justiça, que prevaleça sobre nós, você pode invocá-lo para considerar injusto que eu reprove todas as alunas. Mas, se não há valores absolutos e objetivos fora de nós, você só pode dizer que os seus valores subjetivos são diferentes dos meus, e nada mais. No entanto, você não diz que não gosta do que eu faço, mas que é injusto.Ou seja, quando desce à prática, acredita sem a menor dúvida nos valores absolutos”…
Os relativistas e os céticos consideram que aceitar qualquer crença é servilismo, uma torpe escravidão que inibe a liberdade de pensamento e impede uma forma de pensar elevada e independente.
No entanto – como dizia C. S. Lewis -, ainda que um homem afirme não acreditar que haja bem e mal, vê-lo-emos contradizer-se imediatamente na vida prática. Por exemplo, uma pessoa pode não cumprir a palavra ou não respeitar o combinado, argumentando que isso não tem importância e que cada qual deve organizar a sua vida sem pensarem teorias. Mas o mais provável é que não tarde muito em dizer, referindo-se a outra pessoa, que é indigno que essa pessoa lhe tenha faltado à palavra…”.
Por não ter um ponto de referência claro a respeito da verdade, o relativismo leva à confusão global entre o bem e o mal. Se analisam com um pouco de detalhe as suas argumentações, é fácil observar – como explica Peter Kreeft – que quase todas costumam refutar-se a si próprias:

-“A verdade não é universal” (exceto esta verdade que você acaba de afirmar?).
-“Ninguém pode conhecer a verdade” (a não ser você, segundo parece).
-“A verdade é incerta” (então também é incerto o que você diz!).
-“Todas as generalizações são falsas” (esta também?).
-“Você não pode ser dogmático” (com essa mesma afirmação, você mostra que é bastante dogmático).
-"Não me imponha a sua verdade” (o que significa que neste momento você me está impondo as suas verdades).
-“Não existem absolutos” (absolutamente…?).
-“A verdade é apenas uma opinião” (a sua opinião, pelo que vejo).
E assim por diante.[4]

São estes em grande parte os raciocínios lógicos que me guiam até a afirmação de Luiz Martins: “Universalmente, há valores acerca do que é o bom, o belo, o justo, o bem, o summum bonum (termo de Platão), o supra-sumo do bem, em síntese.”

O segundo matiz da ética é o que para o C.S. Lewis são as pequenas exceções na Universalidade da Lei da Natureza do Certo e Errado. Que nada mais é a ética como moral circunscrita a algum tipo de contexto, social ou cultural.

No terceiro matiz da ética são as éticas profissionais denominadas como Deontologia, que não se encaixa necessariamente em um padrão de moral ou imoral, mas se encaixa mais precisamente em conveniente ou inconveniente, o decoro se encaixa nessa matriz.

O quarto matiz ético é o que se baseia nas leis de cada país. Acho interessante isso, pois um fator cultural me chamou atenção na minha recente visita a Israel. Moshe, o guia turístico da excursão é natural da terra, e toda vez em que ele se referia à lei (jurídica) era interessante, pois ele fazia um sinal com os dedos delineando o formato das duas tábuas, e apontava como que para o meio delas, era automático. Isso mostra como cada país possui sua forma de ver a obrigação legal, e também cada país possui seu sistema jurídico.

Assim como o segundo matiz da ética se refere às pequenas exceções do primeiro o quinto matiz se refere às pequenas exceções do quarto. Refere-se à legitimidade da lei diante de situações em que se apresentam situações bem especificas.

O sexto ponto é o altruísmo. Francis S. Collins explica seu ponto de vista: “Não entendo altruísmo como um comportamento do tipo ‘uma mão lava a outra’, ou seja, praticar a bondade esperando algum benefício em troca. O altruísmo é mais interessante: dar-se sem egoísmo aos outros, com sinceridade, sem nenhuma intenção secundária.”[5] Este é o ponto ou a matiz mais importante, significa ir além de apenas se preocupar em ter uma vida correta, significa se preocupar e se doar para o próximo.
Achei interessante Luiz Martins citar a responsabilidade como sendo uma das principais características do altruísmo, pois Viktor E. Frankl, um Neurologista e Psiquiatra que sobreviveu a Auschwitz em seu livro “Em Busca de Sentido” aponta para o sentido da vida como sendo a responsabilidade.[6]

Para terminar relembro que o importante é correr para socorrer e servir, pois este mundo geme e faz-se necessária a ação muito mais que a discussão!

Notas:
1 CHESTERTON, Gilbert K. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p.172,173.
2 Ambos os livros são publicados em português pela editora Martins Fontes.
3 COLLINS, Francis S. A linguagem de Deus. São Paulo: Editora Gente, 2007, p.31.
4 Revista Pergunte e Responderemos. D. Estevão Bettencourt Nº 535 - Ano : 2007 - Pág. 11
5 COLLINS, Francis S. A linguagem de Deus. São Paulo: Editora Gente, 2007, p.33.
6 FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. São Leopoldo, Editora Sinodal; Petrópolis, Editora Vozes, 1991.

Um comentário:

Luís disse...

Olá parabéns pelo blog as matérias são excelentes também gostei muito do visual, legal mesmo ja estou seguindo.
Quero aproveitar para divulgar o meu blog http://wwwadoradoresemverdade.blogspot.com/ quando puder faça uma visita.
Um Abraço.