terça-feira, 9 de setembro de 2025

O que é Contentamento? Um texto de Ruth Senter

  


Contentamento É...

 

Ruth Senter

 

Eu ouvia a voz, mas não tinha condição de enxergar a pessoa. Ela estava do outro lado do armário do vestiário. Acabara de chegar da aula de natação matinal. Sua voz assemelhava-se à própria manhã: forte, animada, cheia de vida. Às 6h 15 da manhã, atrairia a atenção de qualquer pessoa. Eu ouvi sua voz firme:

— Dolores, gostei muito do livro que você pegou para mim na semana passada. Sei que a biblioteca fica fora de seu caminho. Não consegui parar de ler. Solzhenitsyn é um grande escritor. Estou feliz por você ter-me sugerido o livro dele.

— Bom-dia, Pat — ela cumprimentou outra nadadora. Por um instante, a voz melodiosa calou-se. Em seguida, ouvi-a dizer: — Você já viu um dia tão esplêndido como este? Vi um par de cotovias enquanto caminhava esta manhã. Isso nos traz alegria de viver, não?

O tom da voz era bom demais para ser verdade. Quem pode ser tão agradecido a essa hora da manhã? A voz dela tinha um certo requinte. Talvez fosse uma mulher rica, sem nada para fazer o dia inteiro, a não ser tomar uma xícara de chá em sua varanda e ler Solzhenitsyn. Eu ficaria animada às 6 horas da manhã se pudesse nadar e ler um livro ao longo do dia. Ou se possuísse uma casa de campo nos bosques do Norte.

Contornei o armário em direção aos chuveiros e fiquei frente a frente com a dona daquela voz jovem. Ela estava arrumando seus apetrechos. O uniforme amarelo de faxineira ficava bem assentado naquela mulher de uns 50 anos. Era um uniforme que eu conhecia, acompanhado de vassouras, esfregões, panos de pó e baldes. Uma empregada do local onde eu nadava. Ela deu um leve sorriso para mim, pegou sua sacola de plástico das Lojas Americanas e caminhou apressada em direção à porta, dizendo: "Tenha um glorioso dia" a todos que encontrava.

Eu não consegui tirar da mente aquele uniforme amarelo, enquanto dava minhas braçadas e afundava o corpo na espuma da piscina de hidromassagem. Meus dois companheiros estavam entretidos em uma conversa. Pelo menos um deles estava. Sua voz cansada e triste falava de dores nos joelhos causadas por artrite, aneurisma no coração, noites sem dormir e dias repletos de mal-estar.

Nada estava bom ou na medida certa. A água estava quente demais, os jatos d'água não eram suficientemente fortes para seus joelhos endurecidos, e os médicos haviam demorado muito para diagnosticar seu caso. Com sua mão enfeitada com um anel de brilhante, ele retirou a espuma branca do rosto. Parecia um ancião, mas suspeitei que também tivesse uns 50 anos.

O uniforme amarelo e o anel de brilhante, surpreendente e silencioso contraste, provaram mais uma vez para mim que, quando Deus diz que "religiosidade. acompanhada de contentamento significa prosperidade", Ele quer dizer exatamente isso. Naquela manhã, eu vi contentamento e descontentamento. Tomei a decisão de jamais me esquecer disso.

De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” – 1 Timóteo 6:6-10

Do livro Histórias para o Coração, de Alice Gray (org.)


Nenhum comentário: