Na juventude oferecemos a Deus o nosso entusiasmo; na velhice oferecemos a ponderação, a experiência, a simpatia — qualidades impossíveis de oferecer em outra época. Envelhecer, não somente em graça, mas também em gratidão, é o privilégio do cristão; assim, o cristão não deve suportar a velhice; deve usá-la.
Quando, pela
primeira vez, fui à Índia não me aclimatei bem, e caí vários meses com febre.
Quase valeu a pena ter febre para ter o privilégio de receber as visitas da
bondosíssima senhora hindu chamada "Mãe Carolina". Sua face bronzeada
estava sempre radiante e ao levantar-se depois de ter orado ao meu lado, invariavelmente
inclinava-se e beija-me a fronte febril. Quando ela saía do quarto eu sentia
ter recebido um anjo — conscientemente. Ora, se fosse jovem, teria perguntado,
timidamente, da varanda como eu estava e teria ido embora, mas a velhice tem o
privilégio de entrar nos santuários íntimos e deixar os seus beijos onde são
mais necessários. Sim, a velhice tem o privilégio de penetrar nos santuários
das almas de pessoas, inescrutáveis para a juventude. A velhice tem liberdades
tanto quanto a juventude. Por isso, toda vez que olho no espelho e vejo o
cabelo tornar-se grisalho, somente me alegro. Regozijar-me-ei quando for
branco! Pois todo ano da vida tem sido mais belo que o anterior, e por que não
o seria até o fim — o fim que é apenas um novo começo?
Trecho do livro Cristo e o Sofrimento Humano.
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