Chamo mundanos,
terrestres ou grosseiros aqueles cujo espírito e coração estão apegados a uma
pequena porção do mundo que habitam, que é a terra; que nada estimam, que nada
amam do além: homens de tão estreitos limites como aquilo que julgam seus domínios
e possessões, cujo tamanho pode ser medido e cujas fronteiras podem ser mostradas.
Não me surpreende que homens que se apoiam assim num átomo cambaleiem em seus
mínimos esforços para sondar a verdade e que sua visão tão curta não lhes deixe
atingir a Deus, através do céu e dos astros. Não percebendo a excelência do que
é espírito nem a dignidade da alma, sentem menos ainda como esta é difícil de
satisfazer, como a terra inteira é inferior a ela, como lhe é necessária a
existência de um ser soberanamente perfeito, que é Deus, e quanto é indispensável
uma religião que o revele e o garanta. Compreendo facilmente, pelo contrário,
que é natural a esses espíritos caírem na incredulidade ou na indiferença e
fazer com que Deus e a religião sirvam a política, isto é, a ordem e o
ornamento deste mundo, única coisa, segundo eles, que merece atenção.
La Bruyère in Caracteres
Um comentário:
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