quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

La Bruyère e a necessidade de Deus


Chamo mundanos, terrestres ou grosseiros aqueles cujo espírito e coração estão apegados a uma pequena porção do mundo que habitam, que é a terra; que nada estimam, que nada amam do além: homens de tão estreitos limites como aquilo que julgam seus domínios e possessões, cujo tamanho pode ser medido e cujas fronteiras podem ser mostradas. Não me surpreende que homens que se apoiam assim num átomo cambaleiem em seus mínimos esforços para sondar a verdade e que sua visão tão curta não lhes deixe atingir a Deus, através do céu e dos astros. Não percebendo a excelência do que é espírito nem a dignidade da alma, sentem menos ainda como esta é difícil de satisfazer, como a terra inteira é inferior a ela, como lhe é necessária a existência de um ser soberanamente perfeito, que é Deus, e quanto é indispensável uma religião que o revele e o garanta. Compreendo facilmente, pelo contrário, que é natural a esses espíritos caírem na incredulidade ou na indiferença e fazer com que Deus e a religião sirvam a política, isto é, a ordem e o ornamento deste mundo, única coisa, segundo eles, que merece atenção.

La Bruyère in Caracteres

Um comentário:

Unknown disse...

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